PROJETOS DE PESQUISA

Prof. Dr. Matheus da Silveira Grandi


- A ESCALARIDADE DE MOVIMENTOS SOCIAIS URBANOS NA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO

Esta pesquisa objetiva investigar a escalaridade das ações de grupos e organizações de movimentos sociais urbanos da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ). Tal interesse decorre do reconhecimento de que a questão do foco que deveria ser privilegiado pelos estudos atentos à escalaridade da ação social é um assunto presente nos debates das últimas décadas sobre as escalas geográficas nas produções de diferentes contextos linguísticos. Por um lado, há a ideia de que a atenção deveria voltar-se para investigar como as práticas sociais acontecem em diferentes escalas ou através delas. Por outro, existe quem diga que o enfoque deveria estar na busca por compreender a dimensão escalar das práticas, mantendo a atenção sobre a escalaridade dos processos sociais. Dessa forma as investigações focariam o olhar sobre as práticas como construtoras das próprias escalas, evitando reificar as escalas e vê-las como preexistentes às ações dos sujeitos ou como “contêineres” que necessariamente imporiam barreiras às reflexões sobre as múltiplas conexões que caracterizam a escalaridade das práticas. Esse debate levanta, portanto, a questão sobre se as escalas deveriam ser assumidas como categorias de análise preestabelecidas ou, por outro lado, como categorias da prática social. Parto aqui da concepção de que considerar as escalas geográficas enquanto categorias que resultam sempre da prática social (reconhecendo-se também a análise científica como prática social) destaca o papel ativo dos agentes que as constroem e condiz com abordagens sobre os movimentos sociais que valorizam os processos e ações sociais e esvaziam as estruturas de seu poder explicativo global. Vale destacar que, dentre outras questões, os debates sobre a escalaridade das práticas sociais vêm levantando considerações valiosas para a retomada das preocupações com as articulações e a espacialidade dos movimentos sociais. Desde o final da década de 1980 tais debates ressaltaram que não era mais tão simples —nem parecia mais tão rigoroso— encerrar determinados processos em arranjos escalares tão rígido quanto o tradicional arranjo estatal formal, com escalas encaixadas hermeticamente umas nas outras e nas quais processos complexos precisavam ser amputados para que nelas coubessem. Os referenciais espaço-escalares mais comumente utilizados —local, regional, nacional e internacional— já não pareciam suficientes para abordar a complexidade dos processos sociais. A dimensão escalar assim entendida se apresenta como instrumento que ajuda a dar sentido, organizar e, enfim, exercer e disputar poder em meio às diferenças sócio-espaciais inerentes ao mundo. Por isso, a escalaridade surge como um caminho de entrada interessante no intento de compreender as práticas de sujeitos políticos individuais e coletivos que buscam intencionalmente influenciar as configurações das relações de poder e os processos de produção do espaço nos quais estão inseridos — dentre eles os movimentos sociais urbanos.

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- EXTRAPOLANDO ESCALAS GEOGRÁFICAS: DIÁLOGOS CONCEITUAIS ENTRE DEBATES HISPANO-ANGLO-BRASILEIROS

Um exemplo de como as chamadas “geografias da leitura” ganham importância é a questão da articulação de unidades espaciais em totalidades internamente coerentes, problema que foi respondido de diferentes maneiras no decorrer da história do pensamento geográfico (hierarquias de regiões, “o problema da escala”, geossistemas, etc.). As influências críticas e humanistas na geografia a partir da década de 1970 possibilitaram que a escala geográfica passasse a ser considerada também como uma questão epistemológica e política. Nas pesquisas brasileiras o conceito de escala geográfica, no entanto, não ganhou centralidade, embora tenha se mantido no campo de visão das investigações. Mesmo assim, nas décadas de 1970, 80 e 90 autoras/es do país dialogavam diretamente com reflexões estrangeiras traduzidas até o momento — como textos de Neil Smith, Yves Lacoste e Jean-Bernard Racine, Claude Raffestin e Victor Ruffy — bem como com materiais até então ainda não traduzidos. Nas últimas décadas novos trabalhos interessaram-se pelo papel da escalaridade, em sua maioria dialogando com escritos em língua inglesa nas décadas de 1990 e 2000 — período conhecido como de “explosão” do debate naquele ambiente acadêmico. Apesar disso poucas dessas referências estão atualmente traduzidas em português, restringindo o debate, dentre os quais encontramos os textos de Dominique Masson, Neil Smith, Erik Swyngedouw, Neil Brenner, Blanca Velázquez e Adam Moore. O presente projeto de pesquisa almeja incorporar à bibliografia brasileira textos (artigos e capítulos de livros) que abordam as temáticas das escalas geográficas em outras línguas – fundamentalmente inglês e espanhol. Tal objetivo será perseguido por meio de atividades supervisionadas de revisão e pesquisa bibliográfica, estudos dirigidos coletivos abertos ao público interessado (estudantes de graduação e pós-graduação), elaboração de traduções e realização de debates sobre a questão da escala geográfica nos textos trabalhados.


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